segunda-feira, 24 de março de 2008

A educação

Os professores são quem mais ordena!
A recente mobilização de professores fez recuar a, até então, mais teimosa de todos os ministros e ministras.
Pode não vir a dar em nada, mas conseguiram ganhar algum tempo que pode vir a ser muito precioso. Não esqueçamos a última polémica que envolveu a classe, com a exibição daquele vídeo escabroso em todos os noticiários do país. Quererá isto dizer que os professores terão razão? Se alguém sabe o que é melhor para a educação, para as escolas e para os alunos, não serão eles? Ou será a ministra a partir do seu gabinete?
Esta questão da indisciplina nas escolas é consequência de uma classe que se encontra completamente pulverizada! Como foi possível que em poucos anos o professor, antigamente uma figura de autoridade, disciplina e rigor perante a sociedade, se tornou num utensílio do estado, vulgarizado e desprezado?
“Despromovidos” a encarregados de educação nada podem fazer. A profissão está nas mãos do estado desde que se termina a licenciatura até ao topo da carreira. Os últimos anos têm sido de grandes mexidas para os professores. Desde as colocações por três anos até à criação do Professor – Ensino Básico. Enquanto que a primeira parece ser de todas as más decisões a menos má, a segunda suscita-nos algumas dúvidas. O professor será a partir de agora responsável por 6 anos de ensino, estando estas licenciaturas (Ensino Básico), que qualificam cidadãos com este grau, a ser ministradas agora em algumas instituições de ensino superior:

1) O que acontecerá aos jovens licenciados em Ensino Básico – 1º Ciclo? Jovens que concluíram as suas licenciaturas sem nunca sequer terem exercido, e que se vêm obrigados, depois de anos de estudo pagando propinas, a realizarem mais exames para se qualificarem como professores. Serão agora preteridos em função destes novos licenciados, nova elite dos professores?

2) Irá haver escolas “especiais” onde os alunos frequentem os 6 anos seguidos com os mesmos professores? O que acontecerá ao até agora 2º ciclo?

3) E os professores de matemática, história, português, etc. do 2º ciclo? Alguns, que à semelhança dos de 1º ciclo, nunca exerceram, como serão considerados a partir desse dia? Será que a licenciatura que tanto lhes custou (e aos pais) a obter ainda lhes vai ser útil para alguma coisa?

Estes são apenas alguns pontos que na nossa opinião não estão bem esclarecidos. Os problemas das escolas e dos professores advêm de dois núcleos: das escolas em si e dos gabinetes dos ministros. Enquanto que nada é feito para resolver os problemas das escolas, o governo ataca ainda mais a classe escusando-se e, de certa forma, implicando os professores como parte do problema, criando mais e mais medidas que nada vêm ajudar, pelo contrário. O professor encontra-se encurralado e sob fogo cerrado de ambos os lados. Enquanto se torna quase impossível ser-se professor numa escola num bairro problemático, do lado do governo torna-se impossível ser professor porque a carreira está a ser vilmente atacada.
A solução para os problemas da escola posta em prática pelo Programa de Erradicação do Trabalho Infantil é juntar os jovens em abandono escolar (cremos muito piamente que a menina do telemóvel vai lá parar) todos na mesma turma e “dar-lhes” o 3º ciclo (7º, 8º e 9º) em apenas seis meses. Isto é resolver os problemas? Nós tivemos 3 anos numa escola a receber dezenas de disciplinas, e é possível isto fazer-se em 6 meses?
Isto vai evitar o trabalho infantil?
A sociedade debate-se com algo mais grave, uma assustadora falta de valores nesta geração “morangos” (será correcto chamar-lhe assim? Nós somos a rasca...) que agora atingiu a adolescência, completamente distante e descabida do mundo real, muito mais duro e exigente. São os professores que lidam com eles, os pais afastaram-se das suas responsabilidades depositando a confiança da educação e valores morais na escola. Pois bem, estes valores que surgem agora permitem que numa sala de aula se permita enviar e receber chamadas ou sms por telemóvel (cheias de xis e kappas), porke é cool ou fixe e porke a stôra é uma xata e dá seka!
Enquanto não for restituído o poder perdido pelos professores, e o governo continuar a levar estas situações de ânimo leve, isto nunca mudará. A escola deve ser tomada a sério, e nós achamos que ter visto na TV uma professora paga pelos nossos impostos, numa escola construída com dinheiro dos nossos impostos ser enxovalhada por uma turma inteira que custa dinheiro ao estado, é vergonhoso! Todos nós como cidadãos estamos indignados e achamos que a situação se está a tornar incontrolável. As decisões tomadas são como parar uma fissura numa barragem com um pano.
A educação do povo e a qualidade desta é um dos pilares da nação, é esta a educação que queremos que o nosso povo tenha? De desrespeito pelos professores (uma autoridade e representantes do estado)?
Nós não.